A [COP21], realizada em Paris, segue entre colchetes. Os colchetes foram amplamente utilizados para marcar nos rascunhos do texto do Acordo de Paris, as partes que precisariam ainda ser negociadas. Terminada a primeira semana, o texto – com ainda 48 páginas – tinha mais de 900 colchetes. Dá para imaginar? O título acima com os colchetes reflete minha opinião em relação aos resultados dessa COP em Paris.
Ainda temos muito que analisar e estamos longe de entender qual o impacto real dessas decisões. Será que o que tão celebrado 1,5 grau Celsius no aumento da temperatura da Terra é possível de ser atingido? O que realmente significa isso? Teremos que produzir índices de emissões negativas, ou seja, criar tecnologias que resgatem e armazenem carbono. Essa ideia chega a ser ridícula quando entidades como a Fundação Clinton inventam uma máquina que imita uma árvore. Não parece bem mais razoável manter as árvores que já temos e plantar mais dessas máquinas de resgatar carbono? Matrix.
Outra coisa importante para lembrar é que esse documento aprovado pelo 195 países-membros da ONU no último sábado (12/12) começa a valer só em janeiro de 2020? E até lá? A China, por exemplo, que é o maior emissor do planeta vai continuar aumentando suas emissões até 2030 quando, só então, começará a reduzi-las? Uma ironia para a China foi a situação insustentável para a população de algumas de suas cidades respirarem pouco antes dessa Conferência do Clima. A natureza fala, digo grita.
Não quero estragar a alegria de todos nós de que a COP21 foi um sucesso. Claramente os resultados foram melhores do que na edição de Copenhague em 2009, lembrando que passamos pela Rio+20 e que a COP20 no Peru deu o início aos trabalhos para esse resultado em Paris. Nesse sentido, deveríamos estar bem mais avançados do que estivemos durante essa dúzia de dias na capital francesa.
Fora isso, não podemos descartar a situação na França, seja pela situação política complicada para o atual presidente, François Hollande, seja pelos atos terroristas que o colocaram novamente sob os holofotes de um natural sentimento de nacionalismo. Triste e até mesmo feio dizer que o país se aproveitou da situação e rentabilizou sobre a COP21. O resultado se refletiu, no dia seguinte, nas eleições regionais da França, que conseguiu eliminar a extrema direita, frente política que tinha se destacado fortemente no primeiro turno. Seria ingênuo pensar que a COP21 não teve suas cores pintadas nesse contexto? Outras cores como as do EUA também foram um forte influenciador dos resultados para acomodar suas necessidades, até mesmo constitucionais. Novamente precisaremos de muitas semanas de um trabalho conjunto para analisar os resultados da COP21.
O que pode já ser considerado um grande sucesso foi o movimento, ações e participação da sociedade civil. Uma quantidade gigantesca de eventos, palestras, movimentos, rodas de conversa, manifestações e outras expressões significativas aconteceram nessas duas últimas semanas. Foi um “show” de criatividade, compartilhamento, colaboração, humor, sentimento de pertencimento e muito amor. Parabéns aos milhares de participantes que levaram essa beleza e esperança que buscamos por um mundo melhor. Também levaremos muito tempo para absorver todas essas maravilhas que foram trazidas por muitos dos povos da terra. Fiquei emocionado em muitos momentos e principalmente orgulhoso de fazer parte dessa tribo humana, da natureza. Somos natureza.
Voltando as minhas impressões de Paris, pontualmente, me surpreendi com o estande do Brasil na ONU. Foi uma declaração explícita de como estamos tratando a questão climática em nosso país. Senti vergonha, principalmente ao vê-lo em relação aos dos demais países ali presentes. Deu vontade de chorar. O mesmo Brasil que assumiu o protagonismo na Eco92 e tinha tudo para continuar a liderar esse movimento no mundo. Já na Rio+20 fizemos o vexame de, seis meses antes, adiar em 15 dias o evento que desde 1972 (Estocolmo) tinha a data de 5 de junho como símbolo mundial do meio ambiente. Por que fizemos isso? Por causa do aniversário da rainha da Inglaterra que celebrava o Jubileu de Diamante (60 anos) de coroação. Acredite.
Viemos, desde o início da década de 1990, perdendo esse protagonismo que naturalmente deveria ser nosso. A natureza também expressou em território brasileiro pré-COP21. Os incêndios nas florestas, principalmente na Chapada Diamantina, na Bahia Já em Minas, foi a ação humana que matou um rio e toda sua fauna e flora, destruiu 324 hectares de Mata Atlântica nos arredores do rio Doce e de seus afluentes. A área total afetada por esse crime ambiental é do tamanho de Portugal. Imaginem o que aconteceria se Portugal fosse varrido por esse mar de lama? Por que será as respostas do desastre em Mariana tem sido tão ínfimas e lentas se compararmos aos atentados em Paris, guardadas as devidas proporções dessas agressões?
Falando em repercussão, ocorreu em Paris o mesmo que ocorreu no Rio de Janeiro ao final da Rio+20. No último dia e no dia seguinte naquele 2012, a capa do Jornal Globo destacava um problema na presidência do Paraguai, incrível.  Para quem estava no miolo da Rio+20 foi surreal. Se eu não soubesse e estivesse lendo esse artigo, iria imediatamente para o Google pesquisar na certeza de que o autor só podia estar equivocado. Em Paris, ao menos, no último dia e no dia seguinte só se falava, na mídia tradicional, das eleições regionais. Pelo menos o assunto era local. Por que a pauta do jornalismo ambiental ou mesmo da sustentabilidade como um todo tende a não ocupar as primeiras páginas da mídia tradicional ou mesmo o conteúdo interno?
Nosso trabalho continua, allez Brésil!

*Por Alan Dubner, consultor, palestrante e autor de dezenas de artigos. É cofundador do blog ParisCOP21 e autor do site homônimo alandubner.com

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